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conversa com danuza
Manual da mulher separada
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Manual da mulher separada
Uma mulher tem muitas vidas e alguns maridos. A primeira separação é sempre muito triste; aliás, todas são. Costumam ser de três tipos: ou porque não deu – e se sofre muito; ou porque ele a largou por outra – e se sofre muito; ou porque você o largou por outro – e aí também se sofre muito.
A lição que recebi na vida foi: seja independente para nunca precisar financeiramente de marido – nem de ninguém – e para poder dizer não a hora que quiser, a quem quiser. Grande lição, e cumprida à risca.
E você? Passou uns dois anos sem saber se devia ou não se separar. Afinal, não tinha razão grave para tomar essa decisão, mas, de uns tempos para cá, o casamento andava sem graça e estava claro que não era feliz. Sabia que tinha que enfrentar a família, os filhos e o próprio, que ia levar o maior susto. Tinha chegado a hora, e no dia em que ele saiu de casa pensou: “Ufa!” A primeira providência que tomou foi mudar o segredo da fechadura: ex-maridos saem de casa, mas voltam e enfiam a chave na porta (para ver as crianças). Agora é uma mulher livre. Ainda vai enfrentar chantagens e baixarias quando chegar o capítulo separação dos bens, que inclui da tesourinha ao DVD, da cartela de Lexotan aos discos, essas coisas. Ele é capaz de querer dividir até o faqueiro e a louça – afinal, vai ter que montar casa e foi você quem quis se separar. Deixe. Deixe levar o que bem entender para evitar a discussão que ele tanto quer. Deixe pensando na delícia que vai ser morar sem nada e comprar tudo novo aos pouquinhos.
A próxima providência é trocar a cama. A nova deve ser menor, mas não tão pequena que não caibam dois, você e o futuro namorado. Quando o amor é novo, a gente gosta de dormir juntinho. Por isso, 1,20 metro de largura é suficiente. Encoste a nova cama na parede, como se fosse um sofá. Quando seu ex vier buscar as crianças para o fim de semana e subir – eles sobem sempre –, vai achar que uma cama menor significa que você encerrou sua vida sexual; mal sabe ele. Eles saem, e você se vê, depois de anos, inteiramente só. E, por mais que ame os filhos, nada melhor do que às vezes passar um fim de semana sem eles.
O que faz uma mulher nessa hora? Uma vodca, claro. Espichada no sofá da sala, você se lembra de tudo pelo que passou para esse momento chegar e poder tomar quantas vodcas quiser, de calcinha e sutiã, ouvindo um CD. Com ele não podia fazer isso, claro.
Chame as amigas e faça um bazar. Venda livros, CD’s, tudo que lembre o passado. Pouco a pouco, a casa vai mudando de cara, e é hora de mudar a sua. Um cabeleireiro, imediatamente. Se tem cabelos crespos, alise. Se são lisos, encrespe. Que tal uma mecha cor de alface? Uma tatuagem seria ótimo, só para ter o gostinho da liberdade e, se não for suficiente, um piercing, só para chocar. E um conselho precioso: evite fazer programas com casais amigos. Enquanto não descola um namorado novo, saia com seu amigo gay, aquele que você adora. O único problema é quando estiverem tomando uma bebidinha, um homem se aproximar e você não souber se ele está a fim de você ou de seu amigo. O que vai ser bem engraçado.
Danuza Leão é cronista, autora de vários livros, entre os quais Na Sala com Danuza 2 (ARX) e Quase Tudo (Cia. das Letras)
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